Transições involuntárias de emprego e pobreza no Brasil: o papel do Programa Bolsa Família

O presente trabalho tem o objetivo de estudar as transições de trabalhadores entre empregos (job-to-job) acompanhadas de cortes salariais e a sua relação com a diminuição do bem-estar. Dada a importância do Programa Bolsa Família para os rendimentos das famílias mais pobres, é realizada a imputação de valores para as famílias beneficiárias potenciais e é avaliado o impacto que os benefícios desse programa podem exercer sobre o valor do lazer e o valor de estar desempregado. É utilizado um modelo de job search estacionário simples, de equilíbrio parcial, baseado no modelo de Burdett e Mortensen (1998), com dois tipos de mobilidade job-to-job: voluntária, com aumento salarial, e restrita, com diminuição salarial. São utilizados os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE) para o ano de 2014. Dentre os principais resultados, é possível destacar que as transições job-to-job com diminuição salarial representam, aproximadamente, 89% e 100% das transições entre empregos para, respectivamente, indivíduos de famílias pobres e extremamente pobres, enquanto que esse percentual é de, aproximadamente, 60% para não pobres e não extremamente pobres. Além disso, das transições job-to-job com entrada da família na pobreza, 91% são transições com corte salarial. Por meio das simulações, é possível verificar que a diminuição dos choques de realocação job-to-job com diminuição salarial desloca a distribuição de salários para a direita, diminui a proporção de indivíduos nos primeiros decis da distribuição de salários ofertados, proporciona o aumento da média salarial e, possivelmente, diminui a proporção de indivíduos e famílias em situação de privação e pobreza.